31 de janeiro de 2011

Os novos rumos do Oriente

Gustavo Chacra noticia no seu blog que a polícia voltou a patrulhar as ruas da cidade do Cairo. Após sete intensos dias de manifestações, as frentes populares se mantêm firmes no intento de derrubar o presidente egípcio Hosni Mubarak, há três décadas no poder. As manifestações se fortalecem no canal de Suez – estreito que separa a África da Ásia. Hoje todas as linhas de trem do país foram paralisadas pelo governo por tempo indeterminado. Está programado para amanhã (01/02) a maior reunião de militantes, a Marcha do 1 milhão. Espera-se que milhares de egipícios vindos de diversas localidades se concentrem na Praça Tahrir, na cidade do Cairo. Ontem trabalhadores oriundos do canal de Suez - que liga o mar Mediterrâneo ao mar Vermelho - convocaram uma greve geral no território egípcio por tempo indefinido. O chamado é apoiado pelos líderes da Revolução da Juventude.

A rede de televisão Al-Jazera informou ontem (30/1) que pelo menos 150 pessoas já foram mortas desde o início dos protestos na terça-feira passada (25/1), incitada por estudantes que guiaram os passos das manifestações através das redes sociais. O motim popular ganhou corpo com a adesão da classe média que engrossou as diversas fileiras do movimento pró-mudança no Egito. Hoje o último provedor de internet do país em pé foi derrubado pelo governo militar. O ditador também decretou toque de recolher logo após o caos abraçar com força as ruas da cidade, com os massivos protestos ganhando escopo em todo o país. Hoje o presidente Mubarak nomeou dois ministros numa vã tentativa de conquistar a simpatia dos cidadãos egípcios e restabelecer o diálogo.

Após as manifestações ganharem corpo e o caos ferver nas areias quentes do país, o ditador Mubarak anunciou a demissão de todos os ministros de governo. Rapidamente criou o cargo de vice-presidente, inexistente nos últimos 30 anos de seu mandato. Foi no cargo de vice que Mubarak ascendeu no cenário político egípcio em 1975. O presidente Muhammad Anwar Al Sadat foi assassinado em outubro de 1981, durante uma parada militar no Cairo, abrindo as tumbas para Mubarak se acossar do poder. Anwar Al Sadat promulgou o Tratado de Paz com o Estado de Israel após a derrota do Egito na Guerra do Yom Kipur, em 1973, deflagrada pela crise do petróleo que solapou o globo.

Demografia. Praticamente 90% da população se concentra entre o delta fértil do rio Nilo e o canal de Suez – a maior parte do território é formado pelos desertos estéreis. A nação de 81 milhões de pessoas é descendente de grupos étnicos milenares que se mesclaram com árabes, gregos e turcos que povoaram o território em épocas passadas. Metade desse contigente populacional vive em áreas urbanas do território. Aproximadamente 40% do povo egípcio sobrevive com menos de dois dólares por dia, beirando a linha da pobreza extrema. Dois terços da pirâmide etária egípcia é composta por uma população com até 30 anos de idade que anseia por um futuro mais digno para o Egito.

Os índices de inflação, corrupção e desemprego são altíssimos no país. Na intenção de melhorar as condições sociais nessas áreas, a população iniciou os protestos em busca de um governo mais representativo, com a cara da nação. Os egípcios ocupam uma área que corresponde a 5% do território nacional. O Egito é o segundo país mais populoso da África, fica apenas atrás da África do Sul neste quesito. No relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para 2010, O Egito ocupa a 101ª posição num ranking composto por 169 nacionalidades. Com as novas regras estabelecidas na última edição da pesquisa, o país foi classificado como uma nação de baixo desenvolvimento humano e social.

Geopolítica. A crise que solapa o Egito valorizou o preço do petróleo no mercado mundial. Hoje o barril ultrapassou a casa dos US$ 100 – a maior cotação desde outubro de 2008. O Egito é uma peça importante no xadrez geopolítico do mundo árabe. O governo do ditador Mubarak aliou-se com os últimos cinco governos que passaram pela Casa Branca. Os Estados Unidos fornecem em auxílio militar, 1,3 bilhão de dólares por ano ao Egito. A exploração de petróleo na região remonta a 4.000 anos antes de Cristo. O óleo sempre foi alvo de intensa ganância. As civilizações primitivas do Egito já conheciam algumas propriedes do petróleo e utilizavam o betume (produto extraído do óleo) na pavimentação das ruas e iluminação das casas. O Egito não é um grande produtor de petróleo, mas controla o canal de Suez, rota estratégica na região que faz o elo comercial entre o Golfo Pérsico e a Europa. A OPEP teme que as revoltas ganhem corpo em outras nacionalidades petrolíferas do mundo árabe.

No Egito 90% da população adotou os preceitos religiosos do islamismo sunita. Com as novas tecnologias e as facilidades oferecidas pelas redes sociais, estudantes de toda classe e a classe média do país iniciaram os protestos em prol de reforma consistentes no sistema político e social do Egito. É isso que salta os olhos do mundo. Talvez os manifestantes saiam vitoriosos na sua digna luta por dias melhores. A face tirana de Mubarak está ficando cada vez mais pálida. Os revoltosos persistem com a queda de braço estabelecida com o governo militar. A população sonha com a cabeça teocrática de Mubarak rolando enfraquecida na bandeja reluzente da democracia. Os protestos populares em areias egipcías foram inspirados na Revolução de Jasmim, em Túnis, promovida em dezembro de 2010. O movimento derrubou o general Zine El Abidine Ben Ali que há 23 anos comandava com mãos de ferro uma ditadura na Tunísia.

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