23 de janeiro de 2011

O rei da noite

Mestre do jornalismo de boteco, o escritor João Ubaldo Ribeiro completa hoje 70 anos de uma existência marcada pela escrita. Natural da ilha de Itaparica, o cronista baiano é um desses grandes nomes da Literatura que ainda escreve a plenos pulmões para a imprensa brasileira. Ubaldo tem coluna no jornal O Globo e também no O Estado de S. Paulo. Já perdi a conta de quantas vezes tomei o café da manhã na sua companhia.

João Ubaldo é um desses cronistas da velha guarda que conta com algumas bodas na Literatura. Neste gênero acredito que o escritor realmente se destaca dos demais no âmbito literário. Suas crônicas falam sobre as raízes da cultura brasileira com uma simplicidade que consegue abraçar a diversos públicos. Textos permeados pelo jeito manso e a pitada de sarcasmo inerente do seu temperamento baiano. Seu trajeto literário conta com algumas obras de peso na bagagem.

Aos 30 anos ele firmou os passos com um romance de destaque, Sargento Getúlio (1971), o qual a Câmara Brasileira do Livro laureou com o prêmio Jabuti de 1972 na categoria ‘Revelação de Autor’ e posteriormente a obra, em 1983, foi objeto de produção cinematográfica. João Ubaldo editou, em 1984, o romance Viva o Povo Brasileiro, agraciado com o Prêmio Jabuti na categoria ‘Romance’ e também samba-enredo da escola Império da Tijuca no carnaval de 1987.

Aos 52 anos foi convidado a vestir o fardão de imortal e ocupar a 34ª cadeira da Acadêmica Brasileira de letras, em 1993. No ano 2008, Ubaldo foi o oitavo brasileiro agraciado com o Prêmio Camões, considerado a maior honraria concedida a um escritor da Língua Portuguesa. Mas o sucesso é fruto do trabalho incansável do cronista de Itaparica:

“Tenho uma cota de produção diária. Antigamente, eram três laudas de espaço 2, agora, com o computador, são 800 palavras, à maneira americana de contar. Nos Estados Unidos, sempre se usou como unidade de contagem a palavra. Então, tenho uma brincadeira com amigos meus. Por exemplo, Joseph Conrad (escritor britânico de origem ucraniana) escrevia 800 palavras por dia. Aí, eu escrevo pelo menos um Conrad por dia.” (Revista Contigo)

O baiano é um homem de hábitos modestos que usa a vivência diária como inspiração para suas crônicas, degustando a vida através dos pequenos detalhes do cotidiano. Mas já foi um boêmio arretado. Ainda não abandonou o costume de fumar alguns cigarros nos momentos de introspecção, mas o escritor compensa o hábito com caminhadas, vestido de bermuda e camisa curta, empreendidas no calçadão. Afastado do álcool há sete anos, ele não abre mão de um guaraná bem gelado e da conversa sem compromisso com os amigos nos bares do Leblon.

Algumas dessas vivências ele narra no livro O rei da noite (1998), coletânea composta de 34 crônicas que relata a transformação do escritor baiano; um boêmio da velha guarda que tenta levar uma vida de homem saudável. Já li e indico aos marujos dispostos a novos horizontes. O primeiro conto da obra revela porque o talento de João Ubaldo é tão premiado.

Indico também A guerra não vai acabar e Ainda há muito terreno pela frente.

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