31 de janeiro de 2011

Os novos rumos do Oriente

Gustavo Chacra noticia no seu blog que a polícia voltou a patrulhar as ruas da cidade do Cairo. Após sete intensos dias de manifestações, as frentes populares se mantêm firmes no intento de derrubar o presidente egípcio Hosni Mubarak, há três décadas no poder. As manifestações se fortalecem no canal de Suez – estreito que separa a África da Ásia. Hoje todas as linhas de trem do país foram paralisadas pelo governo por tempo indeterminado. Está programado para amanhã (01/02) a maior reunião de militantes, a Marcha do 1 milhão. Espera-se que milhares de egipícios vindos de diversas localidades se concentrem na Praça Tahrir, na cidade do Cairo. Ontem trabalhadores oriundos do canal de Suez - que liga o mar Mediterrâneo ao mar Vermelho - convocaram uma greve geral no território egípcio por tempo indefinido. O chamado é apoiado pelos líderes da Revolução da Juventude.

A rede de televisão Al-Jazera informou ontem (30/1) que pelo menos 150 pessoas já foram mortas desde o início dos protestos na terça-feira passada (25/1), incitada por estudantes que guiaram os passos das manifestações através das redes sociais. O motim popular ganhou corpo com a adesão da classe média que engrossou as diversas fileiras do movimento pró-mudança no Egito. Hoje o último provedor de internet do país em pé foi derrubado pelo governo militar. O ditador também decretou toque de recolher logo após o caos abraçar com força as ruas da cidade, com os massivos protestos ganhando escopo em todo o país. Hoje o presidente Mubarak nomeou dois ministros numa vã tentativa de conquistar a simpatia dos cidadãos egípcios e restabelecer o diálogo.

Após as manifestações ganharem corpo e o caos ferver nas areias quentes do país, o ditador Mubarak anunciou a demissão de todos os ministros de governo. Rapidamente criou o cargo de vice-presidente, inexistente nos últimos 30 anos de seu mandato. Foi no cargo de vice que Mubarak ascendeu no cenário político egípcio em 1975. O presidente Muhammad Anwar Al Sadat foi assassinado em outubro de 1981, durante uma parada militar no Cairo, abrindo as tumbas para Mubarak se acossar do poder. Anwar Al Sadat promulgou o Tratado de Paz com o Estado de Israel após a derrota do Egito na Guerra do Yom Kipur, em 1973, deflagrada pela crise do petróleo que solapou o globo.

Demografia. Praticamente 90% da população se concentra entre o delta fértil do rio Nilo e o canal de Suez – a maior parte do território é formado pelos desertos estéreis. A nação de 81 milhões de pessoas é descendente de grupos étnicos milenares que se mesclaram com árabes, gregos e turcos que povoaram o território em épocas passadas. Metade desse contigente populacional vive em áreas urbanas do território. Aproximadamente 40% do povo egípcio sobrevive com menos de dois dólares por dia, beirando a linha da pobreza extrema. Dois terços da pirâmide etária egípcia é composta por uma população com até 30 anos de idade que anseia por um futuro mais digno para o Egito.

Os índices de inflação, corrupção e desemprego são altíssimos no país. Na intenção de melhorar as condições sociais nessas áreas, a população iniciou os protestos em busca de um governo mais representativo, com a cara da nação. Os egípcios ocupam uma área que corresponde a 5% do território nacional. O Egito é o segundo país mais populoso da África, fica apenas atrás da África do Sul neste quesito. No relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para 2010, O Egito ocupa a 101ª posição num ranking composto por 169 nacionalidades. Com as novas regras estabelecidas na última edição da pesquisa, o país foi classificado como uma nação de baixo desenvolvimento humano e social.

Geopolítica. A crise que solapa o Egito valorizou o preço do petróleo no mercado mundial. Hoje o barril ultrapassou a casa dos US$ 100 – a maior cotação desde outubro de 2008. O Egito é uma peça importante no xadrez geopolítico do mundo árabe. O governo do ditador Mubarak aliou-se com os últimos cinco governos que passaram pela Casa Branca. Os Estados Unidos fornecem em auxílio militar, 1,3 bilhão de dólares por ano ao Egito. A exploração de petróleo na região remonta a 4.000 anos antes de Cristo. O óleo sempre foi alvo de intensa ganância. As civilizações primitivas do Egito já conheciam algumas propriedes do petróleo e utilizavam o betume (produto extraído do óleo) na pavimentação das ruas e iluminação das casas. O Egito não é um grande produtor de petróleo, mas controla o canal de Suez, rota estratégica na região que faz o elo comercial entre o Golfo Pérsico e a Europa. A OPEP teme que as revoltas ganhem corpo em outras nacionalidades petrolíferas do mundo árabe.

No Egito 90% da população adotou os preceitos religiosos do islamismo sunita. Com as novas tecnologias e as facilidades oferecidas pelas redes sociais, estudantes de toda classe e a classe média do país iniciaram os protestos em prol de reforma consistentes no sistema político e social do Egito. É isso que salta os olhos do mundo. Talvez os manifestantes saiam vitoriosos na sua digna luta por dias melhores. A face tirana de Mubarak está ficando cada vez mais pálida. Os revoltosos persistem com a queda de braço estabelecida com o governo militar. A população sonha com a cabeça teocrática de Mubarak rolando enfraquecida na bandeja reluzente da democracia. Os protestos populares em areias egipcías foram inspirados na Revolução de Jasmim, em Túnis, promovida em dezembro de 2010. O movimento derrubou o general Zine El Abidine Ben Ali que há 23 anos comandava com mãos de ferro uma ditadura na Tunísia.

25 de janeiro de 2011

Casa da Leitura

Hoje é aniversário da cidade de São Paulo, praça urbana mais movimentada e conhecida do Brasil. Não faltariam argumentos para devotar algumas palavras de admiração sobre a terra da garoa do glorioso sambista Adoniran Barbosa. Acredito que muitos mestres e doutores já se empenharam nesta tarefa de esgotar em teses e dissertações,as múltiplas facetas da movimentada metrópole. O maior presente que a cidade ganhou foi reinauguração da primeira biblioteca pública de São Paulo.

Mário de Andrade. Após três anos de reformas na estrutura, a Biblioteca Mário de Andradade - segunda maior do país - reabriu suas portas a visitação. Foram gastos R$ 16 milhões de reais, empreendidos na restauração de móveis antigos, obras raras, reforma nas alas, saguão e sonho antigo de instalar um sistema de refrigeração e climatização. Constam do seu acervo mais de 327 mil obras, das quais 51 mil são obras raras. A diretora da biblioteca, Maria Barbosa de Almeida, explica que, com as reformas, 700 pessoas passaram a circular diariamente a ala circundante, de livre acesso ao público.

O prédio que abriga a Biblioteca Mário de Andrade foi inaugurado em 1943. O poeta foi homenageado com o nome da biblioteca porque foi um dos idealizadores e criadores do Secretária de Cultura da cidade. O poeta também auxiliou na criação da Semana de Arte Moderna de 1922, impulsionada por uma geração de grandes artistas, como o glorioso maestro e compositor Heitor Villa-Lobos e da pintora e desenhista Tarsila do Amaral. O poeta Mário de Andrade faz parte da vangudarda do Movimento Modernista, que trouxe muitas novidades no cenário cultural, artístico e estético do país. O arquiteto Oscar Niemeyer faz parte da segunda geração modernista. Ele é grão-mestre do modernismo na arquitetura brasileira.

Nacional do Rio.
A Biblioteca Nacional, localizada na cidade do Rio de Janeiro é a biblioteca mais bem estruturada do país e possuí o maior acervo bibliotecário da América Latina, com aproximadamente nove millhões de obras sob sua tutela. Ano passado a biblioteca não passou por reformas estruturais, mas nos últimos quatro anos foram implementadas uma série de inovações em comemoração aos 200 anos de sua existência no país através da digitalização de grande parte do acervo de obras raras. Atualmente a Biblioteca Nacional possui o oitavo maior acervo do mundo.

Consta do seu catálogo, uma coleção com 25 mil fotografias e diversos manuscritos doados à biblioteca pelo imperadorDom Pedro II, logo após ter sido exonerado do cargo, com a instauração do regime republicano no país. A única exigência imposta pelo ex-imperador foi que a coleção conservasse o nome da sua esposa, a imperatriz Theresa Christina. Dom Pedro II é o autor das três primeiras fotos captadas em solo tupiniquim.

Mas a pedra filosofal da Biblioteca Nacional foi trazida com a vinda da família real portuguesa, para o Brasil, em 1808. Dom João VI trouxe no seu bojo lusitano, a obra mais antiga da Nacional, a Bíblia de Mogúcia, impressa em 1462, por Johannem Füst, sócio do ourives e tipógrafo Johann Gutemberg pai da imprensa, inventor da prensa com tipos móveis metálicos, que permitiram a reprodução massiva de várias obras que até então eram reproduzidas pelos monges – escribas e copistas - nos mosteiros feudais da Europa Medieval. Com o invento de Gutemberg, abriu-se um novo horizonte para a elaboração de diversas peças gráficas. Os tipos móveis alavancaram a circulação do conhecimento.

Bibliotecas públicas. É sabido que os livros são um ótimo meio de entretenimento, cultura e educação. O que nos falta são bibliotecas públicas bem estruturadas para que as obras passem circular com freqüência nos lares brasileiros. A leitura é uma fuga saudável dos afazeres da rotina. Bibliotecas climatizadas despertam uma gostosa sensação de aconchego aos seus visitantes. Também é notório que várias bibliotecas Brasil afora precisam restaurar sua coleção de obras raras e renovar o acervo para atender a demanda crescente de um publico leitor em constante formação.

Visando estabelecer esse projeto de uma nação imbuída com o anzol das letras e encetada pelo arco mágico das palavras, o sociologo Juca Ferreira, ministro da Cultura do governo anterior, anunciou a criação do programa governamental Mais Cultura para as Bibliotecas Públicas, que a principio busca sanar as dificuldades e deficiências de aproximadamente 300 bibliotecas espalhadas por diversas cidades, com recursos do porte de R$ 30,6 milhões para realizar modernização de equipamentos e instalação dos espaços públicos para a leitura nos municípios.

Em junho de 2010, o Ministério da Cultura publicou no Diário Oficial da União, edital prorrogando o prazo de inscrição no programa para até 15 de julho de 2010. As prefeituras que efetuaram cadastro e não tiveram suas bibliotecas selecionadas no primeiro lote do programa, tiveram até o dia 7 de janeiro deste ano para entrar com recuso. O edital do programa federal foi dividido em três categorias: Apoio a Bibliotecas Municipais; Implantação de Bibliotecas de Bairro; Distritais e/ou Rurais e Apoio a Bibliotecas Acessíveis. As cidades contempladas pelo projeto podem ser vista aqui.

Hábito da Leitura. Fazer do livro um produto acessível todos é a grande missão do jornalista e escritor Galeno Amorim que assumiu a presidência da Fundação Biblioteca Nacional, no dia 24 de janeiro. No governo da presidente Dilma, a fundação ficará responsável pela política pública da leitura e do livro no Brasil. A maior prioridade de Amorim é buscar formas de popularizar o acesso aos livros e outros materiais de leitura. O jornalista criou em 2006 o Plano Nacional do Livro e da Leitura.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro em 2008, revela que a média de leitura do brasileiro está melhorando gradativamente. Os dados apontam que, na média, lemos 4,7 livros por ano. Os custos de produção das obras ainda é um grande obstáculo para a circulação e disseminação dos livros nas camadas mais populares. O jornalista foi incubido pela batuta da ministra Cultura, Ana de Hollanda, a preparar o terreno para a criação do Instituto Nacional do Livro e da Leitura

Mas de nada vale a beleza de datas históricas, o apoio de grandes nomes e o auxílio de programas governamentais se o hábito da leitura não for inserido e estimulado principalmente pela família, responsável pela nossa educação primária. A nossa auto-consciência também pode nos auxiliar nesta tarefa. Os pixels e bits brilhantes da telinha do computador muitas vezes não conseguem mensurar a beleza estética de uma obra impressa. Os livros são a garantia de uma existência plena na face da terra. Só a leitura salva da nebulosidade dos fatos.

24 de janeiro de 2011

Fogo na ponte

Ainda não estamos em época de festas de São João, mas nos céus de Santo Antônio do Descoberto, em Goiás, já há sinal de fumaça. A população ateou fogo numa pilha pneus na ponte local, principal via de acesso à cidade; bloqueando a DF-280, rodovia que liga o município à Brasília. Os moradores estão indignados com a tarifa de R$ 4,75 implementada no transporte municipal. Acidadania, cansada da vida bandida de Golias vivenciada todos os dias no busão, também alvejou com pedras a vidraça do gabinete da prefeitura.

O sinal de fumaça e os estilhaços não foram vistos com bons olhos pelo prefeito David Leite da Silva (PR), que acionou o Grupo de Operações Especiais da Policia Militar de Goiânia para reprimir o Bolero de Satã orquestrado pela trombeta ensurdecedora de 2 mil incandescentes munícipes inflamando os flancos da manifestação com pedras e garrafas.

Os revoltosos foram repelidos com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Os humores só se acalmaram com a mão divina do padre local, que abriu as portas da Igreja para abrigar os manifestantes – carentes de um ombro público que repare o prejuízo moral que as tarifas lhes causam no bolso –, apaziguando o ímpeto policial e os ânimos da manifestação que, ao que tudo indica, se tornará mais uma causa pagã.

Segundo reportagem do Bom Dia Brasil DF, além das condições precárias das rodovias e do preço exorbitante das tarifas, os moradores que necessitam se deslocar para Brasília, a trabalho, convivem desde o ano de 2009 com rotineiros assaltos a mão armada, realizados à luz do dia no trajeto de 50 km que separa as duas cidades.

O percurso interestadual é realizado por apenas uma única empresa de transporte coletivo. Sobre o preço abusivo do passe, o prefeito lavou as mãos; disse que apenas cumpre rigorosamente a tabela estabelecida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

23 de janeiro de 2011

O rei da noite

Mestre do jornalismo de boteco, o escritor João Ubaldo Ribeiro completa hoje 70 anos de uma existência marcada pela escrita. Natural da ilha de Itaparica, o cronista baiano é um desses grandes nomes da Literatura que ainda escreve a plenos pulmões para a imprensa brasileira. Ubaldo tem coluna no jornal O Globo e também no O Estado de S. Paulo. Já perdi a conta de quantas vezes tomei o café da manhã na sua companhia.

João Ubaldo é um desses cronistas da velha guarda que conta com algumas bodas na Literatura. Neste gênero acredito que o escritor realmente se destaca dos demais no âmbito literário. Suas crônicas falam sobre as raízes da cultura brasileira com uma simplicidade que consegue abraçar a diversos públicos. Textos permeados pelo jeito manso e a pitada de sarcasmo inerente do seu temperamento baiano. Seu trajeto literário conta com algumas obras de peso na bagagem.

Aos 30 anos ele firmou os passos com um romance de destaque, Sargento Getúlio (1971), o qual a Câmara Brasileira do Livro laureou com o prêmio Jabuti de 1972 na categoria ‘Revelação de Autor’ e posteriormente a obra, em 1983, foi objeto de produção cinematográfica. João Ubaldo editou, em 1984, o romance Viva o Povo Brasileiro, agraciado com o Prêmio Jabuti na categoria ‘Romance’ e também samba-enredo da escola Império da Tijuca no carnaval de 1987.

Aos 52 anos foi convidado a vestir o fardão de imortal e ocupar a 34ª cadeira da Acadêmica Brasileira de letras, em 1993. No ano 2008, Ubaldo foi o oitavo brasileiro agraciado com o Prêmio Camões, considerado a maior honraria concedida a um escritor da Língua Portuguesa. Mas o sucesso é fruto do trabalho incansável do cronista de Itaparica:

“Tenho uma cota de produção diária. Antigamente, eram três laudas de espaço 2, agora, com o computador, são 800 palavras, à maneira americana de contar. Nos Estados Unidos, sempre se usou como unidade de contagem a palavra. Então, tenho uma brincadeira com amigos meus. Por exemplo, Joseph Conrad (escritor britânico de origem ucraniana) escrevia 800 palavras por dia. Aí, eu escrevo pelo menos um Conrad por dia.” (Revista Contigo)

O baiano é um homem de hábitos modestos que usa a vivência diária como inspiração para suas crônicas, degustando a vida através dos pequenos detalhes do cotidiano. Mas já foi um boêmio arretado. Ainda não abandonou o costume de fumar alguns cigarros nos momentos de introspecção, mas o escritor compensa o hábito com caminhadas, vestido de bermuda e camisa curta, empreendidas no calçadão. Afastado do álcool há sete anos, ele não abre mão de um guaraná bem gelado e da conversa sem compromisso com os amigos nos bares do Leblon.

Algumas dessas vivências ele narra no livro O rei da noite (1998), coletânea composta de 34 crônicas que relata a transformação do escritor baiano; um boêmio da velha guarda que tenta levar uma vida de homem saudável. Já li e indico aos marujos dispostos a novos horizontes. O primeiro conto da obra revela porque o talento de João Ubaldo é tão premiado.

Indico também A guerra não vai acabar e Ainda há muito terreno pela frente.

13 de janeiro de 2011

Pelas redondezas

Ultimamente ando encafifado com a redondeza das datas. Talvez porque a terra é redonda e dentro dela giramos no universo e a vida é marcada pela esfericidade dos ciclos. É pelas redondezas que nós vivemos. É gostoso sentir a redondeza que desce o gole de uma bebida refrescante. É divertido ver a redondeza da bola rolando nos gramados no fim de semana. Seja como for, tudo que é redondo vai para frente na vida e faz circular lembranças e anseios.

Por exemplo, já deram uma olhadinha no calendário? O carnaval vai ser no dia 8 de março, dia internacional da mulher. A festa mais brasileira vai ser comemorada com todo o jeitinho feminino das brasileiras no seu dia de glória. É nessas horas que eu fico pensado o quanto as iranianas devem sentir inveja da alegria das brasileiras. Acho que a Dilma não irá convidar o Ahmadinejad para seu camarote.

Em março faço aniversário no dia 13, no qual irei dobrar este número enigmático ao completar 26 anos idade, daqui a exatos 2 meses. Somando a nova idade, ela se transforma num 8 sereno, que corresponde ao número de letras do meu nome. Estamos em 2011 e os anos ímpares sempre são marcados pela diferença.

Nestes três anos de universidade amadureci premissas que se tornaram leis pétreas incontestáveis. Minha oca do equilíbrio tem residência fixa no meio termo, onde geografia se faz com os pés e lugar de repórter é na rua.

E por aí, pelas redondezas, vou afinando meu gerúndio.

As aulas na UFSC só recomeçam em 14 de março, no dia nacional da poesia. É com a poesia de uma composição feita por Chico Buarque e Tom Jobim em que me despeço por hora, em homenagem a grandeza de espírito do povo do Rio de Janeiro.

Piano na Mangueira
Mangueira, estou aqui na plataforma da Estação Primeira
O morro veio me chamar
De terno branco e chapéu de palha
Vou me apresentar à minha nova parceira
Já mandei subir o piano pra Mangueira

A minha música não é de levantar poeira
Mas pode entrar no barracão
Onde a cabrocha pendura a saia
No amanhecer da quarta-feira
Mangueira, Estação Primeira de Mangueira

Estou aqui na plataforma da Estação Primeira
O morro veio me chamar
De terno branco e chapéu de palha
Vou me apresentar à minha nova parceira
Já mandei subir o piano pra Mangueira

A minha música não é de levantar poeira
Mas pode entrar no barracão
Onde a cabrocha pendura a saia
No amanhecer da quarta-feira
Mangueira, Estação Primeira de Mangueira
Mangueira, Mangueira, Mangueira, Mangueira...

12 de janeiro de 2011

Moro num país tropical

As tragédias acontecem e não temos como ficar isentos diante da situação. Janeiro está se tornando o mês dos desastres no Rio. A tristeza adjacente do desastre revela muitas faces mal acabadas do nosso Brasil, ora continente, ora indigente. A força da natureza é muito maior que a força do homem e o poder aquisitivo não barra o poder do meio ambiente. É duro ver um pai de família procurando a motivação da sua felicidade no meio de toda aquela lama, em meio aquele caos desumano provocado por uma série de fatores históricos mal aparados pelo tempo.

Poder público. Fico abismado como a classe política tira de letra essas situações aterrorizantes. Falam com muita propriedade que a culpa mesmo é da população que fez uma ocupação irregular na encosta do morro, mas que as providências já estão sendo tomadas dentro de seus confortáveis gabinetes para estabelecer novamente a ordem pública. Enquanto as medidas emergências são tomadas pela própria população que conta com o auxílio da Defesa Civil na busca incessante de algum sinal de vida embaixo do escombros.

Me parece que as Unidades de Policia Pacificadoras são um claro sinal de que essa política de embate na qual se 'resolve’ ao invés de prevenir, empreendida e promovida pela União, Estados e municípios, pode estar com seus dias contados. O ditado é tão batido como a sola do meu tênis, mas realmente vale mais a constância da prevenção sistemática em conjunto do que o gosto amargo e insatisfatório do remédio federativo.

Porque na hora da tragédia é bonito para um ministro de Estado, um vice-governador, um senador meia pataca, sobrevoar a área devastada, mas na hora de liberar verbas para a reconstrução das casas em local apropriado, ninguém lembra em qual gaveta foi esquecida a medida provisória. Mas já diria o saudoso Fernando Pessoa diante da catástrofe: ‘Planejar é preciso’.

Raiz histórica. Talvez o leitor amuado pela tristeza dos fatos não lembre, mas a cidade do Rio de Janeiro a foi capital do país na época do Brasil Império, posto abandonado apenas em 1960. O mesmo Brasil Império de Dom Pedro II que contou com o auxílio de uma pena e um pouco de nanquim para aprovar a Lei de Terras em 1850, um dos pilares da ocupação forçada das encostas e da concentração de renda no país.

Esta lei aboliu em caráter definitivo o regime de doações de terras promovido pela Coroa, através da Sesmaria, que distribuía e regulamentava a distribuição de solos destinados à produção. A aprovação da lei limou as esperanças de negros, índios e outros luso-brasileiros de baixo poder aquisitivo conseguirem adquirir legalmente seu pedaço de terra, garantindo, assim, os interesses dos grandes proprietários produtores de cana e café deste período. É a lei mais antiga atualmente em vigência no país.

Foi no final da época deste mesmo Brasil Imperial carioca que o país conseguiu se tornar a última nação da América Latina a abolir a escravidão, em 1888. O Haiti foi o primeiro país do continente a declarar extinto o regime escravocrata. Após três séculos e alguns oitavos de exploração, aproximadamente 800 mil negros foram substituídos paulatinamente pela mão-de-obra de empreendedora de imigrantes europeus que vieram na esperança de frutificar um pedaço de terra oferecido pelo governo, ou ainda trabalhar numa fazenda de café ganhando um salário não tão digno assim, é verdade, mas ainda sim um salário, fruto do reconhecimento do seu trabalho.

Infelizmente o fim da escravidão não melhorou a condição social e econômica dos ex-escravos e desde então seus descendentes sofrem com a falta de amparo da União – que ultimamente anda mais preocupada em cobrar os 40% de tributos e impostos em tudo que consumimos, mas tira o corpo fora na hora de aplicar os recursos com seriedade.

Os negros analfabetos – desempregados das fazendas – não eram bem-vindos nas burocráticas ruas das cidades. Para fugir da injusta perseguição – sem formação primária e profissão definida, não tinham chance de trabalhar no comércio - por vagabundagem nas aristocráticas praças urbanas do recente Brasil República, os negros tiveram que se embrenhar mata adentro em busca de um pouco de paz e dignidade nas encostas dos vales tropicais brasileiros. Brasileiros de outras gerações seguiram o mesmo caminho.

Com o surgimento da Republica no Brasil, em 1889, chegamos a mais um cerne histórico da ocupação forçada das encostas que se encontra diluído no corpo da própria Constituição Brasileira, pois a partir do momento que todos foram declarados juridicamente iguais perante uma lei pétrea de Estado, ficou mascarada toda a desigualdade social e econômica que vinha permeando o país há quatro séculos.

Pois pasmem vocês, que até recentemente um cidadão analfabeto – mal amparado por falta de políticas públicas decentes no âmbito da educação – era proibido de votar no Brasil. Esta situação se reverte em 1985, com a aprovação de uma Emenda Constitucional que lhes garantiu o direito ao voto facultativo. Mas apesar de não saber ler e escrever, eles nunca ficaram totalmente alheios a vida social e situação vigente no país.

A constituição cidadã de 1988 garante a população uma série de direitos que historicamente foram ceifados ao longo dos anos. Direitos que não são respeitados ao pé da letra, porque lei no Brasil sem brecha não é lei. Ainda não perdemos o costume político de legislar e administrar na base do grito, na base do interesse próprio, na base do improviso mirabolante de medidas provisórias que desviam dinheiro público a rodo no Congresso Nacional.

Ando meio arisco e apreensivo com classe política brasileira. Como o leitor pode perceber, motivos realmente não faltam.

Se todo político que se julga um republicano e democrata representante do povo tivesse um coração bondoso e altruísta como de Zilda Arns, garanto que teríamos um Brasil mais feliz a cada instante.

Chegará um dia que só santo irá viver de promessa neste país.

11 de janeiro de 2011

Concentração

Na ponta do lápis ela nunca falha
Na borda da página corta como navalha
Na vida diária uma constante batalha

10 de janeiro de 2011

Heróico Markun

Hoje me deparei com uma biografia de Anita Garibaldi escrita pelo jornalista Paulo Markun. O livro sobre a nossa eterna heroína de dois mundos foi escrito em 1999. A obra é uma homenagem a Comemoração aos 500 anos de descobrimento do país. Estou com ele na mão porque é uma das obras que a lombada se destaca na minha estante. Um projeto gráfico muito bem acabado, diga-se de passagem, impresso em papel couché, com ilustrações de conteúdo histórico relevante que permeiam a narrativa suave e constante de Markun nas páginas de Anita Garibaldi - uma heroína brasileira.

Estava lendo a orelha direita do livro e um dado miudo me chamou a atenção. O autor da biografia histórica iniciou sua carreira profissional em 1971. Paulo Markun tem 40 anos de jornalismo nas costas. Apresentou o programa Roda Viva na TV Cultura de 1998 a 2008. O jornalista também foi presidente da Fundação Padre Anchieta – que administra a TV Cultura – de 2007 a 2010. Atualmente Markun é comentarista político da TV Gazeta. Sinto saudades daquele Roda Viva clássico e austero que o Paulo Markun apresentava com um anfiteatro de repórteres sabatinando o entrevistado – figura pública importante – no centro da arena.

Lembrei que hoje é segunda-feira e não é mais ele o âncora do programa que já não tem mais a pegada editorial de antes. O anfiteatro de outrora foi reduzido a uma mesa com cinco pessoas com a Maria Gabriela no centro, vociferando seu temperamento de escrivã de porta de delegacia ao lado de Paulo Moreira Leite que parece firmar o pulso com ‘alguma coisa’ antes de ir pra bancada desse Roda Viva recauchutado. O programa preservou apenas a cabeça do chargista.

É angustiante ver uma entrevista onde as perguntas aparecem mais que as respostas, onde o entrevistador gesticula mais que o entrevistado, onde parece que há mais intimidade no debate do que profissionalismo e conteúdo jornalístico que se preze. Você menina de rostinho bonito que acha que tem talento para o jornalismo e um dia sonha brilhar na telinha da TV, abra seu olho para essas nuances. O telespectador não tem tempo a perder com o exibicionismo de apresentadores presunçosos.

O primeiro Roda Viva sob o comando de Marília foi uma entrevista com a excelência em pessoa, o Eike Batista. Um milionário que saiu da ‘classe C da riqueza’ e agora tenta fazer fortuna para entrar no seleto grupo do G4 dos bilionários eleitos todo ano pela revista Forbes. Alguém tem que pedir para o Bill Gates dar uma ligadinha pra ele fazer parte daquele grupo de ricaços que vai doar metade da fortuna a Instituições de Caridade após o seu falecimento. Mais ai o ‘Nike’ Batista teria que andar com um forte esquema de segurança porque não faltaria gente querendo sua cabeça em nome da caridade.

A Marília Gabriela narra o perfil do entrevistado do mesmo modo que faz no seu talk show no SBT. Não muda uma vírgula sequer no texto que segue o mesmo molde há anos. É uma pena, amigos. Aquele nosso Roda Viva de referência e gabarito dentro do jornalismo já não é mais aquele Roda Viva que vimos nascer em 1986. O que ainda salva o programa é o talento silencioso do cartunista Paulo Caruso. Saudades, Markun.

9 de janeiro de 2011

Pipa na praia

Estava sentado na beira de uma calçada na rua que sempre pego para ir a praia. Minha perna vacilante, o calor de 31ºC na moleira mais o antibiótico me baixaram a pressão de um jeito que fui obrigado a me sentar para refrescar o corpo com água e arejar um pouco as idéias sempre efervescentes. Como numa miragem vejo surgindo na esquina um piazinho loiro e franzino com quatro cachorros vindo em minha direção.

Quando o garoto se aproximou achei que era mais miragem ainda. O menino com o rosto pincelado com algumas sardinhas e o nariz queimado do sol é uma versão pocket daquele ator que fez o filme Lagoa Azul. Perguntei a ele se todos aqueles cachorros que o acompanhavam eram dele mesmo. Sabem como é a vivacidade que uma criança no alto dos seus sete anos, sempre curiosos com o mundo que os cerca.

O cachorro que ele mais gostava era o vira-lata que não parava de lambê-lo. Um garotinho muito esperto que queria me falar muitas coisas. Além dos seus fiéis escudeiros ele carregava dois minúsculos carrinhos na mão. Minha pressão tinha até retornado ao seu estado normal com a vivacidade do menino. Relatou os primeiros perrengues com os coleguinhas, uma mocinha que ele anda querendo impressionar e as brincadeiras que lhe agradam.

Perguntei ao Luiz Gustavo se ele gostava de soltar pipa. Os olhos do menino se iluminaram tanto que ele saltou para o meio da rua para mostrar o tamanho ideal da rabiola da sua pipa imaginária. Expliquei ao pequeno que a pipa ganharia mais destaque nas areias da praia, impulsionada pelos ventos que sopram no litoral, sem a tensão dos fios elétricos urbanos cerceando o trajeto da pandorga.

Comentei com o pequeno de que o horário tinha avançado e estava na hora de eu partir rumo à praia e ele de voltar com os cães – que não paravam de brincar - para casa. Passei-lhe as coordenadas geográficas do meu trajeto na praia e o horário que circulo naquelas redondezas para combinarmos melhor como iremos fazer essa pipa voar no céu da praia de Navegantes.

Os pais do menino surgiram na frente de casa, com um outro filho e ficaram observando alegres a sapequice do garoto. Expliquei a eles que vou à praia com minha irmã com certa freqüência durante a semana e que não haveria problemas de levar o Luiz Gustavo conosco. Me despedi deles e parti rumo ao mar. Sempre que chego na praia sento um pouco e fico contemplando um pouco os humores do nosso bom amigo.

Pois mal sentei na areia e dois pequenos, tão franzinos e sapecas como o Luiz, começaram a brincar de corrida perto de mim. Subiram e desceram várias vezes aquele morrinho no qual eu estava sentado no alto, observando até então o mar. Uma hora eles pararam perto de mim. Me perguntaram o que eu tinha feito na perna e expliquei-lhes por alto o acidente e a recomendação médica.

Um dos moleques apontou para o braço do irmão e disse que ele também já havia se machucado um tempo atrás, caiu no asfalto. Um deles encontrou uma nota de R$ 2,00 que havia caído do bolso do meu calção. Dei o trocado para o moleque e falei para eles conversarem com os pais deles para averiguar se não havia problemas deles ficarem com o dinheiro para comprar alguma coisa para eles. Então recebi um sinal de positivo da mesinha do quiosque no qual se encontram os pais da criança há alguns metros de distancia. Me despedi dos pequenos e resolvi partir para a minha tradicional caminhadinha na praia.

Procuro entender melhor como funciona a mentalidade das crianças e adolescentes de hoje. Afinal eles estão por aí marcando novas tendências e surgem com outros gostos que interagem com os últimos avanços conquistados pela humanidade. Surgem com um novo olhar para a vida. A geração 85 da qual faço parte, está ai firmando os passos. Minha irmã é da geração 97, pré-boom da internet. Nós estávamos indo com certa regularidade a praia até eu cortar a perna. Estou passando a Diana alguns conhecimentos geográficos e procuro saber dela qual o método que mais lhe agrada nos processos de aprendizagem.

Semestre passado iniciei as disciplinas de licenciatura no curso de geografia. Este semestre estou indo para a sétima fase do curso. No segundo semestre deste ano irei me deparar com uma turma com pelo menos 30 pré-adolescentes como minha irmã, buscando saber a metodologia de ensino que o professor irá utilizar na disciplina de geografia. Estou preparando o espírito para esta nova etapa que se concretizará mais adiante. De uma forma muito branda, acreditem.

A faculdade não te ensina uma técnica mágica e estanque para ser um excelente professor. Somos estimulados a desenvolver um estilo próprio capaz de suprir todas as diferenças e expectativas que uma sala de aula abarca. Percebo que os jovens de hoje estão mais antenados que acontece a sua volta. A educação de qualidade pode auxiliar ainda mais nesta tarefa de compreender melhor o mundo.

As políticas públicas direcionadas à educação ainda são recentes no Brasil. Precisamos de índices mais qualitativos nos processos de aprendizagem. A vontade de aprender dessa molecada é algo realmente estimulante. Infelizmente a educação básica no Brasil ainda não encontrou sua excelência e vou sair com essa missão da faculdade.

Dar o melhor de si, sem essa de lei de Muricy.

8 de janeiro de 2011

Balança a rede do adversário

As negociações já começam a se arquitetar no mundo do futebol. Hoje pela manhã conversei com meu pai pelo telefone. Estamos na expectativa de um ano bom para o nosso Mengão, ofuscado com a repercussão do caso Bruno, mas que agora há de brilhar com a contratação de Ronaldinho Gaúcho, nosso eterno camisa 10. A presidente do clube anunciou que Flamengo e Milan chegaram a um acordo sobre a transferência, três minutos antes de acabar o Globo Esporte de hoje.

Aposto que o Luxa já está fazendo 1001 esquemas táticos com um Ronaldinho Gaúcho no time. Dizem que até hoje o Dunga é ressentido com ele depois que levou um chapeuzinho que não lhe coube na cabeça. Agora com os 99,9% de chances de acerto com o Milan, resta aguardar o pronunciamento oficial do craque. Os chapeuzinhos e as pedaladas sempre fizeram a diferença.

Não há como negar que é um Mengão dos sonhos de qualquer torcedor. Até o Muricy Ramalho que não é homem de dizer mentiras, falou que a chance é do Flamengo, devotando algumas palavras otimistas sobre o retorno do futuro Dario Conca do Mengão em 2011 aos gramados brasileiros." Não dá para duvidar de um cara desse. Qual time no mundo não queria ter o Ronaldinho Gaucho?" afirmou o treinador do Fluminense.

Bola murcha. “Soltaram os bichos no cara, porque não soube chegar, lá na minha boiada a rapaziada bota pra quebrar”. Mais uma do nosso bom e velho Bezerra da Silva. Sim, amigos. A contradição é a mãe da trapaça. Somália volante do Botafogo de Joel Santana levou um malho do destino e se queimou com o clube ao tentar ludibriar a policia com alguns impropérios.

Somália teve uma idéia relâmpago: inventar um seqüestro relâmpago. Isso tudo para justificar sua falta no primeiro treino coletivo do time e também para evitar o pagamento de multa de 40% do seu generoso salário por ter chegado em casa às 4:00 da madrugada e não ter condições físicas e morais para comparecer ao centro de treinamento no horário determinado justamente na reapresentação.

A vida é um eterno boomerang. A farsa foi descoberta com a mesma rapidez que foi inventada. Por que é tão difícil para alguns admitir seus próprios erros? Com tanto traficante pedindo para ser preso nas ruas e a policia tendo que se ocupar com essas picaretagens primárias.Um homem que honra a testosterona que tem no corpo eleva a honestidade como seu maior preceito. A brincadeira de Somália pode lhe custar 6 meses de prisão. Foi doutora delegada que disse.

Bola cheia. Minha mãe sempre me disse que “quem fala a verdade não merece castigo”. Dostoiéviski já dizia que o “homem tem tudo nas mãos e se não consegue é porque tem medo”. E eis que ressurge quixotescamente ele, Jobson, o ‘filho do trabalho’ que por algum tempo seguiu o obtuso ‘caminho das pedras’ e agora retorna aos verdejantes campos do futebol brasileiro.

O atacante é o novo reforço do Atlético/MG. O técnico afirmou que o jogador não terá tratamento diferenciado dos demais do grupo. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva diminuiu de 2 anos para 6 meses a pena do atacante que admitiu ter feito uso de entorpecentes no Campeonato Brasileiro de 2009.

Com a decisão o jogador poderá auxiliar o Atlético/MG no Campeonato Estadual ao lado do talento de Obina que sempre brilha muito. Quem aqui nunca errou que marque o primeiro impedimento. Merecido retorno. Assumiu a mea-culpa e não é reincidente.

7 de janeiro de 2011

Marcando seus pontinhos

Comecei a olhar para o curativo logo abaixo do meu joelho direito. Por ironia do destino terminei o dia de reis literalmente ‘reinando’. Ao entrar na porta de casa resvalei numa placa metálica que se encontrava próxima a ela. Um corte de uns 6 cm se personificou na minha perna. Se fosse a jugular jorraria sangue como num poço de petróleo recém-perfurado. Às vezes sou meios estabanado com as coisas. Mas o destino não foi tão cruel comigo porque a casa da minha mãe em Navegantes fica bem em frente ao Hospital da cidade.

Andei 100 metros como um soldado raso ferido claudicando um socorro diante da emergência dos fatos. A recepcionista me pediu o RG e fez rapidamente o meu cadastro. Abriu aquela porta que toda emergência de hospital tem e me encaminhou para o setor de curativos. Esperei um pouco ate ouvir o doutor me chamar no corredor. Pela maestria na pronúncia do L do meu nome percebi que ele não era brasileiro. Pode parecer piada, mas fui atendido por um médico boliviano parecido com um antigo professor de física. Ele pediu para eu deitar na maca de tênis mesmo que ele já vinha iniciar os procedimentos. Voltou com uma enfermeira jeitosinha que o auxiliou nos trabalhos.

Perguntei algumas trivialidades para o médico e fiquei ali, meio tenso, esperando ele finalizar a obra. Tenho pavor de seringas. Na hora da agulhada me obriguei a fechar os olhos. Anestesiado, fiquei pasmado com a maestria do doutor de costurar os cinco pontinhos na minha perna. No último eu pensei que ele ia negar a ajuda da enfermeira e cortar a linha com os dentes, num momento profissional ninja, tamanho o domínio da técnica apresentada pelo médico boliviano

O doutor disse que era pra eu fazer o curativo no Posto de Saúde, hoje pela manhã. Mas a enfermeira fez questão de fazer um curativo, antes de eu sair do hospital. Ainda devolveu minha carteira que tinha esquecido em cima da maca. Depois disso, passei no gabinete do doutor para pegar a receita do antibiótico. Ele recomendou eu ficar sete longos e tortuosos dias afastado da praia. Também disse pra eu tomar a antitetânica e trocar o curativo no posto todos os dias. Acho que perdi meia horinha entre o ocorrido e os procedimentos profiláticos. Eficiência total.

Pode ser que em alguns lugares do país o atendimento hospitalar não seja tão eficiente assim. Mas pensem que até bem pouco tempo atrás se eu morasse na Flórida ou em qualquer outro lugar dos EUA, eu não teria o mesmo atendimento que o Brasil oferece. Não estou passando a mão na cabeça do SUS, mas o serviço funciona muito bem em alguns casos. Por mais absurdo que pareça, a nação mais toda poderosa do mundo não oferece um sistema de saúde publica aos seus democráticos cidadãos.

A reforma no sistema de saúde estadunidense foi a principal promessa de campanha do presidente Barack Obama. Em 2008, segundo estimativa do governo, 46,3 milhões de pessoas – incluindo a massa de imigrantes – não tinham plano de saúde nos EUA. O governo financia dois programas, o Medicare que é destinando para pessoas com mais de 65 anos de idade e o Medicaid, para pessoas de baixa renda - acredito que só para cidadãos natos ou naturalizados, excluindo os imigrantes. Veteranos das forças armadas e crianças pobres também são contempladas por um auxílio governamental, como se fosse um bolsa-sáude norte-americano.

A intenção de Obama é oferecer assistência médica a 32 milhões de americanos que atualmente não possuem seguro-saúde. A nova legislação ampliaria a cobertura dos programas Medicare e Medicaid. Também impede que seguradoras cobrem taxas abusivas. Grande parte dos estadunidenses precisam adquirir seu próprio plano de saúde por meio de seus empregadores ou ainda por conta própria. Após a lei ser sancionada, todos os americanos serão obrigados a manter um plano de saúde básico.

Aqui no Brasil, o Sistema Único de Saúde, popularmente conhecido como SUS, foi criado pela Constituição Federal de 1988, visando atender a todos os brasileiros. Pensem, que a reforma no sistema de sáude proposta por Obama foi sancionada ano passado, no último ano da primeira década do século XXI. Temos um sistema público de saúde desde a penúltima década do século XX. Duas grandes nações que avançam de forma diferente. Tirem suas conclusões.

6 de janeiro de 2011

Ripamento de concreto

Hoje é dia de reis. Data que marca a chegada dos três reis magos a manjedoura de Cristo. Rezam as escrituras sagradas que os três reis magos enviados do oriente foram guiados por uma estrela-guia. Lembrei de um trecho da música A rosa. É nesses momentos que fico pensando um mago do ‘oriente’ ou a estrela-guia? Um dilema cristão do coração.

Bares. Amigos, tenho que lhes confessar que adoro freqüentar um boteco daqueles bem pé-sujo. É um legitimo berçário de pautas. Encostado ali no balcão às vezes me sinto rei. Não sou muito fã do álcool, mas bares também vendem café. É do balcão de um boteco que lhes escrevo este texto. Entrei num desses para comprar chicletes.

Um senhor alto da dose percebeu que eu estava com dois jornais em baixo do braço. Perguntou se eu não tinha o Diário Catarinense. Informei-lhe que possuia apenas o Diarinho e um outro jornal de distribuição gratuita que circula em Navegantes. O senhor de olhar humilde me pediu para ler o horóscopo do Diarinho, indicando a página 12.

Então li para ele o de Aquário: “Você está muito crítico nos seus relacionamentos pessoais. Momento favorável para o desenvolvimento da sua carreira profissional. Através do apoio de outras pessoas, sócios clientes, você poderá melhorar sua situação material. Após a leitura eu larguei um “Tá vendo!?” O velhinho simpático abriu um sorriso. Ontem foi seu dia de reis, pois veio ao mundo sua netinha. Nos despedimos.

Bares 2. Então segui novamente no caminho de volta para casa, mas tinha esquecido de um pequeno detalhe: no verão as tempestades se armam a qualquer instante. Qual o melhor lugar para um homem se proteger da chuva? Um boteco-pé-sujo. O segundo do dia. Neste havia apenas o dono do bar, seu Raul, que me ajeitou uma cadeira de plástico na porta do estabelecimento. Logo chegou uma senhora capixaba e seu filho. Também aportou um cliente antigo da casa que se amparou num pacotinho de amendoim que ele pegou no balcão.

Ficamos ali na porta observando o toró d´água. Então a senhora capixaba inciou uma conversação sobre geografia urbana. Comentou sobre as fortes chuvas que também alagam Vitória no verão. O cliente antigo pediu para imaginarmos São Paulo, com seus prédios e impermeáveis nesta época do ano. Mencionei que não há galeria que dê conta do volume de água. Matutamos um pouco.

Seu Raul, até então um ouvinte, deu-nos uma lição de engenharia, arquitetura e sustentabilidade. Estava falando sobre uma construção próxima ao bar. “O Tonho fez a casa praticamente sozinho. As telhas são todas amarradas e o ripamento é de concreto. Não vai madeira” Fiquei admirado com as inovações tecnológicas relatadas por ele.

O motoboy do jogo do bicho acaba de chegar: “Carneiro!”. O tio do bar estava assistindo o telejornal então percebi que o horário tinha avançado e já estava na hora de retornar para casa, pois a fome estava assombrando meu estomago e eu já havia saciado minha vontade de escrever.

Já tinha levantado do banquinho e me direcionado para rua. Mas fiquei ali, de pé, próximo a porta, pois estava passando na TV a tele-reportagem sobre a agressão ao repórter da RBS, o Francis Silvy, que levou dois socos na cara e por sorte se escapou de um pipoco. Os agressores estavam munidos de uma pistola. Um deles é dono de um shopping suspeito. O jornalista estava apurando uma denúncia feita pelo Ministério Publico. Disse ao seu Raul: “É isso que me espera!”.

5 de janeiro de 2011

O jornal mais querido do país

Ontem o jornal o Estado de S. Paulo, carinhosamente conhecido como 'Estadão' completou 136 anos de circulação no país. O jornal foi fundado em 1875, ainda com o nome Provincia de S. Paulo, 13 anos antes da abolição da escravidão do país que ocorreu em 1888.

Desses 136 anos, o jornal contabiliza apenas 131 anos de total independência no exercício da atividade jornalística diária. A familía Mesquita não contabiliza na história do jornal os cinco anos nos quais a redação do Estado foi administrada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura do governo Getúlio Vargas. Esse período corresponde a 25 de março de 1940 a dezembro de 1945, quando Vargas renúncia encerrando as espúrias atividades do 'Estado Novo'.

É o único jornal que registra a história política do país desdes os tempos monárquicos do Brasil Império de Dom Pedro II. O jornal circulou com uma capa especial no dia seguinte à Proclamação da República, sem ilustrações, apenas com a notícia dos novos tempos políticos em letras garrafais. O jornal passa a se chamar o Estado de S. Paulo em 1890, já no primeiro ano da Era Republicana brasileira.

O jornal datou grandes momentos da história nacional. O Estado enviou o repórter Euclides da Cunha para cobrir a Guerra de Canudos, em 1897. Seu trabalho jornalístico na Bahia, resultou no livro "Os Sertões", onde Euclides aprofundou suas observações sobre a saga de Antonio Conselheiro e seus seguidores nas messiânicas - e olímpicas - batalhas contra o Exército Brasileiro.

Grandes nomes da literatura nacional como Rachel de Queiróz, Monteiro Lobato e Mário de Andrade deixaram registrados seu talento artístico nas páginas do Estadão, dando mais seriedade ao jornal através dos diversos gêneros jornalisticos trabalhados nas suas páginas impressas com muita sensibilidade.

O Estado de S. Paulo é um das poucas publicações nacionais que ainda circula no clássico e elegante formato standard - 497 x 598 mm. Outros veículos que ainda mantêm este mesmo formato são o Globo, Folha de S. Paulo e Valor Econômico. Publicações européias estão adotando um tamanho intermediário entre o standard e o tablóide, o berlinês.

No dia 13 de março de 2010 o jornal anunciou a estréia do novo projeto gráfico do jornal. No dia seguinte o Estado de S. Paulo circulou repaginado. Preservou a austeridade e elegância e manteve a capacidade de surpreender o leitor com notícias exclusivas e reportagens de fôlego nas suas páginas impressas. Neste processo de refundação, o jornal também lançou o novo portal Estadão de notícias na internet unificando a redação do on-line com o impresso.

Em 2010 O Estado ganhou o prêmio de 'jornal mais admirado do país', na avaliação promovida pelo Grupo Troiano de Branding. É a sétima vez em onze ano que o periódico atinge a melhor avaliação do público na categoria 'Jornal', na pesquisa elaborada anualmente pelo Grupo TB. O jornal também recebeu o troféu Caboré 2010, premiado como 'veículo de comunicação do ano em mídia impressa'.

Segundo o IVC (Instituto Verificador de Circulação), entre janeiro e junho de 2010 média de circulação diária dos jornais no Brasil foi de 4.255.893 milhões exemplares, com alta de 1,5% em relação ao mesmo periodo em 2009. Ano passado, o Estado puxou este índice positivo na circulação de jornais no país.

O Estado de S. Paulo circula com uma tiragem média de 213 mil exemplares, número modesto frente a população de 190 milhões de brasileiros. No entanto a circulação total do jornal cresceu aproximadamente de 10% de janeiro a setembro de 2010.Os jornais europeus e americanos tiveram queda de circulação devido à crise.

Vale à pena ler diariamente o jornal mais antigo em circulação no país atualmente. O leitor interessado na sagacidade do jornal O Estado de S. Paulo, pode degustar totalmente de graça por 30 dias, a versão impressa clicando aqui. Acreditem na opinião de quem assina o jornal há 8 meses.

4 de janeiro de 2011

O mistério continua

"Se não tiver a prova do flagrante nos altos dos inquérido fica sem efeito, diga lá", cantaria nosso grande Bezerra da Silva se pudesse acompanhar o noticiário musical neste início de 2011.

O médico Conrad Murray é acusado de homicídio culposo por ter injetado de forma leviana o medicamento propofol que levou a morte do mestre-artesão do pop, Michael Jackson. Mas até que se prove o contrário, ele é inocente e foi assim que Murray se declarou, na semana passada.

O mistério se encontra no seguinte: quem aplicou a dose fatal do sedativo? Murray? O próprio Michael na tentativa de dormir para sempre? Um enfermeiro comparsa de Murray? Um empregado da casa até então desconhecido pelas autoridades? Como dosar a culpa?

Nesta terça, em Los Angeles, o promotor David Walgren afirmou que ocorreram várias 'falhas de procedimento', culminando na morte do rei do pop. Dentre elas o fato de o médico não ter ligado para o serviço de emergência de imediato. Também há evidências negativas em relação aos procedimentos adotados pelo médico na reanimação do cantor.

Murray é cardiologista com 47 anos de carreira.

O caso conta com um fato novo: uma suposta seringa encontrada próxima ao corpo de Michael, da qual o cantor - ou ainda outra pessoa - teria feito uso para injetar a dose fatal, enquanto Murray estava no banheiro, extraindo uma água do joelho.

A audiência preliminar - que pode durar até duas semanas - na Corte Superior de Los Angeles decidirá se existem provas contrárias suficientes para iniciar de fato, o julgamento do médico indolente.

Ao que tudo indica é o que irá ocorrer nos próximos dias, pois existem provas suficientes para iniciar o julgamento. Isso se não surgir nenhum fato novo ao 49 do segundo tempo. Inclusive a reaparição do próprio Michael. Nem Jesus Cristo foi velado por tanto tempo...

3 de janeiro de 2011

Atitudes altruístas

Estou assistindo Se eu fosse você aquele filminho que está passando na Rede Globo. É a segunda vez que assisto essa boa comédia romântica. Não há como negar o talento de Tony Ramos e Glória Pires, sentindo o que o outro sente na pele.

Na realidade não é uma tarefa tão simples quanto aparenta. Todo mundo quer 'se colocar na vida', mas poucos são aqueles que 'se colocam no lugar do próximo'. Há aqueles que até tentam, mas esquecem de se despir de juízos de valores pré-concebidos antes de incorporar a visão de mundo do outro.

Nesse momento precisamos de altruísmo.

Geralmente tentamos resolver a problemática do outro dizendo o que fariamos no lugar dele, quando na realidade o que ele gostaria de ouvir é o que fariamos se fossemos ele naquela situação. Há uma pequena diferença de angulação.

Às vezes sinto que estamos trilhando os passos de um narcisismo nacional. É antiquado ser compreensivo hoje em dia. 'Faz o teu que eu faço o meu' está se tornando a regra nº 1 da interação entre as pessoas. O sintoma é a Lei de Muricy, onde cada um é por si.

Ainda temos toda a singularidade da Lei de Gerson. Imaginem o malandro suando a camisa fazendo o dele e ainda tentando tirar vantagem em cima de tudo e todos? O egoísmo coletivo pode se tornar uma marca dos tempos modernos.

Só conseguimos entender o outro com os olhos curiosos da compreensão.

Se eu fosse você, pensaria um pouquinho nisso.

2 de janeiro de 2011

O céu é o limite

Minha irmã e eu estavamos sentados num banquinho embaixo de um figueira ao lado do Ferry Boat de Navegantes. Estavamos ali esperando a chuva passar, enquanto eu observava como funcionam aqueles guindastes do Porto de Navegantes.

- O que cai do céu? - perguntou minha irmã, a Diana.

- São os espíritos que choram e as lágrimas rolam lá de cima - respondeu o filho da moça do espetinho que estava ali conversando de pé com a gente, comendo amendoins.

Sai da profundidade dos meus pensamentos com tamanha perspicácia e inocência da resposta do expressivo e espirituoso menino de 7 anos.

Fiquei ali mais algum tempo até minha mãe chegar e então comecei a pensar, sozinho, já no trajeto de volta:

"- Mas o que cai do céu nesse mundo? Se cai é porque tem que cair?"

Fora água, que era a resposta que a Diana esperava ouvir do inocente menino, o Solano, poucas são a coisas que já vi de fato cair do céu, assim, ao léo, bem à toa da vida.

Particularmente vi somente alguns fenômenos naturais. Um pouquinho de neve e granizo em Curitibanos. As corriqueiras chuvas tropicais de Florianópolis.

Alguém já viu cair um meteoro?

À parte isto e o resto que cai do firmamento é sempre fruto de guerra ou transporte.

Porque a gente sabe que no firmamento da humanidade nada caiu de graça.

1 de janeiro de 2011

O alvorecer de uma nova era

Sim meus caros amigos. Este blog ressurge no alvorecer do ano vindouro. Sem exigências incisivas, sem grandes expectativas, sem a pressão da dead-line apertada do dia-a-dia acadêmico. Após um fim de ano imerso numa crise sentimental há muito não experimentada por este blogueiro que vos fala; passei uma virada de década tranqüila com meus familiares e eu observando os transeuntes que se aglutinavam na praia enquanto uma fina garoa caia segundos antes do inicio da queima de fogos a beira mar.

Abdiquei uma noitada regada a bebida por uma manhã singela em busca de pães quentes e fresquinhos para o café. Sim, caríssimos. Esse blog renasce vivendo a simplicidade das pequenas coisas da vida. Saudades de fazer essas cafonices que a rotina acadêmica pautada pelos prazos não permite viver com plenitude durante o ano balizado pelas atividades universitárias.

Troquei uma tarde ensolarada na praia por um aparelho televisor 21 polegadas onde vi o discurso de posse da "presidenta" eleita (é assim que ela quer ser chamada) Dilma Rousseff. Na minha condição de estudante de jornalismo - na humilde, acredito que todo cidadão brasileiro - tenho que estar a par dos grandes acontecimentos que ocorrem em nosso território. Claro que minha consciência não ficaria tranquila consigo se eu deixasse passar batido um evento com tamanho relevo histórico no calendário nacional. Contemplei atentamente a grandeza de espirito da nação com olhos de geógrafo.

Gostei de ouvir as sóbrias palavras da presidenta que se pautou num discurso lúcido e sereno sobre a realidade brasileira, no seu primeiro pronunciamento oficial à nação. Achei engraçado o Sarney atuando como mestre de cerimônias numa transição de governo na qual ele foi ator principal há 25 anos atrás. Os pêlos do meu braço quase se arrepiaram quando ouvi a presidenta discursando:

"Mas só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso com a educação das crianças e jovens."

Creio piamente nas palavras bem intencionadas de Dilma. A educação é a cereja do bolo de um crescimento econômico "mantível" - me recuso a usar o famigerado termo sustentável, vocábulo banalizado pela promessas da classe política. A qualidade do ensino precisa alcançar indices tão frutíferos quanto os alcançados no âmbito econômico, do contrário essa guinada vivida na Era Lula pode se transformar num grande castelo de areia ao longo do tempo.

Fiquei contente em notar que "falsos moralismos" já não pautam com veemência os costumes sociais brasileiros. A presidenta desfilando ao lado da filha dentro do Rolls-Royce presidencial é um momento de sutil simbolismo dentro de uma sociedade tão cheia de peculiaridades como a nossa. Moderno e 'destemido', acredito que o vice, Michel Temer, não deve se importar com o fato de sua jovem esposa ser uns três centimetros mais alta que o nosso novo número 2 da Nação.

Um povo que aprendeu a vestir a camisa e não se entregar no primeiro obstáculo ao ver a olímpica batalha do antigo vice, José Alencar, contra um câncer. Que só não desceu a rampa do Planalto porque está internado, mas mesmo assim colocou o terno e a gravata amarela para assistir a Cerimônia de Posse do seu quarto no hospital.

Enquanto a figura de Lula representava o brasileiro que trabalhou arduamente para ascender na vida e sustentar os filhos, Dilma poderá representar a legião de mães adolescentes e mulheres injustiçadas desse país. Fortes tendências, meus caros. Os simbolismos falam por si.

Me despeço aos sabores da democracia participativa.

Agora vivemos uma República de Saias.