3 de fevereiro de 2011

Virose do ego

Ontem faleceu em um consultório médico, do posto de saúde do bairro Saco Grande, na cidade de Florianópolis, a menina Mariana Tessari do Prado, de três anos de idade. As causas da morte da menina estão sendo apuradas e ainda aguardam um laudo definitivo, que será elaborado pelo Hospital Infantil. O falecimento da criança causou desconfiança na população. O acontecimento foi amplamente divulgado pelos noticiários. Há cinco meses atrás, João Manoel Batista, 53 anos, morreu no pátio do local, aguardando atendimento.

No dia do ocorrido, a pequena amanheceu apresentando vômitos e diarréia, sendo levada às pressas para o posto de saúde. Os pais e a menina chegaram por volta das 8:30min e foram atendidos perto das 10:00h. O médico, Igor Tavares da Silva Chaves, disse que criança apresentava um ‘quadro bem clássico’ de virose gastrointestinal e estava bem no ‘colo da mãe’, no momento da consulta. Após o ‘exame ambulatorial’, o clinico receitou os medicamentos Plazil (p/ o vomito) e Dipirona (p/ a febre); dispensando-os.

Por volta das 13:30 min, os familiares retornaram ao local, porque o quadro clinico da menina piorou, depois que ela tomou os medicamentos. Ao chegar no posto, a criança estava desidratada, com falta de ar e pouca oxigenação no corpo. Em entrevista ao jornal Hora de Santa Catarina, o médico informa que, no consultório, foi dado à criança soro e oxigênio, mas a menina teve uma parada cardíaca, vinda a óbito.

A prefeitura de Florianópolis imbricou uma sindicância para apurar as causas do óbito da menina de três anos de idade no consultório médico do posto. Segundo informações da imprensa local, a família de Mariana passava dez dias de férias na capital. A menina foi enterrada ontem na cidade de Ponte Alta, município pertencente à região serrana do estado. O Instituto de Pericías está elaborando um laudo que será encaminhado a Secretária de Saúde para ser anexado a sindicância.

Ontem, em entrevista ao Jornal do Almoço, o secretário da saúde, João José Candido da Silva, afirma que foram adotados procedimentos cabíveis: “Nós estamos em constante apuração, uma morte é uma tragédia. Queria fazer uma correção: ela não morreu da medicação. A secretaria tem todo o sistema computadorizado. Nós temos os registros de todos os procedimentos médicos. Ela tinha todos os sintomas de uma virose comum nessa época, foi medicada e orientada a mãe. A secretaria tem 2.300 funcionários que trabalham com amor”, declarou o secretário um dia após a repercussão do caso.

Erros Primários. Segundo reportagem da revista Isto É, um estudo realizado pela Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto, feito em novembro do ano passado, revela que o índice de erros na hora de dar os medicamentos aos pacientes é alto, colocando em risco a vida dessas pessoas ‘sorteados pelo destino’. A pesquisa mostra que 77,3% dos enganos são relativos ao horário de administração dos remédios, dados uma hora antes ou uma hora depois do horário correto.

O estudo elaborado pela Escola de Enfermagem foi feio em cinco hospitais paulistas. A pesquisa indica que os erros de dosagem correspondem a 14,4% das ocorrências. De acordo com a matéria, o problema hospitalar é mundial. Um levantamento parecido foi realizado em 19 hospitais da Inglaterra. O estudo revela que, de cada dez prescrições, uma contém erro. A matéria relata que os hospitais estão tentando minimizar esses erros hospitalares.

Negligência. Casos de prescrições inadequadas e erros primários nos procedimentos ambulatoriais é um fato que permeia a realidade de alguns postos de saúde, hospitais e consultórios médicos de Santa Catarina. Apesar da gravidade e urgência dos fatos, a fiscalização geralmente não faz parte da rotina desses estabelecimentos.

No mês de maio do ano passado, em Joaçaba, município do meio-oeste, duas mulheres, de 54 e 60 anos, passaram mal e tiveram uma parada cardiorrespiratória, após uma endoscopia mal sucedida em uma clinica particular da cidade e vieram a óbito. Foi encontrado no lixeiro do consultório um anestésico (Xilocaína) com o prazo de validade vencido, aplicado para lubrificar o endoscópio - instrumento utilizado no diagnostico de anomalias gasstrointestinais.

De acordo com a Vigilância Sanitária, o médico gastroenterologista, Denis Conci Braga, 31, responsável pelos exames, tinha autorização apenas para manter o consultório e não podia realizar exames de endoscopia no estabelecimento. A Vigilância Sanitária lacrou as portas da clínica. No mesmo dia, cinco pessoas também passaram mal após o procedimento. Braga, proprietário da clínica e responsável pelos exames, foi preso e autuado por homicídio culposo sem intenção de matar. Ele pagou fiança de R$ 2.500 e está respondendo o processo em liberdade.

Prognóstico. Analisando bem, o número de mortes e sindicâncias diminuiria a passos largos se houvessem fiscalizações constantes e consistentes nos estabelecimentos de saúde de Santa Catarina. São deslizes políticos primários que não estão a altura da carga tributária paga a duras penas para obter o atendimento digno. As pessoas que recorrem a clínicas particulares, o quadro piora, porque são duplamente tributadas.

Falhar é realmente um ato humano. Mas é inaceitável não corrigir e prevenir os erros. Existe uma palavra no dicionário chamada fiscalização. Ela assegura a população de que os serviços públicos estão funcionando dentro das normas. É como o trabalho de um policial. No entanto, há órgãos competentes dentro da administração publica para realizar esse favor em prol da cidadania. Está na hora de vacinar as viroses do ego e medicar um câncer: a burocracia.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelo blog Darilson